terça-feira, 22 de maio de 2012

Entrevista de Marcos Bagno ao Jornal "Extra Classe"

 MARCOS BAGNO 


          Professor da Universidade de Brasília, escritor e lingüista, Marcos Bagno é um insurgente contra toda forma de discriminação social por meio da linguagem. “O preconceito lingüístico precisa ser reconhecido, denunciado e combatido, porque é uma das formas mais sutis e perversas de exclusão social”, diz nesta entrevista que antecedeu a Aula Inaugural do Sinpro/RS, em Porto Alegre, na qual Bagno é palestrante.
          Mestre em Lingüística e Doutor em Língua Portuguesa pela USP, ele já publicou mais de 30 livros – de literatura e de divulgação científica, entre os quais A língua de Eulália (Contexto, 1997), Dramática da língua portuguesa (Loyola, 2000) e Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação lingüística (Parábola, 2007).

         
                           ENTREVISTA DE MARCOS BAGNO AO JORNAL EXTRA CLASSE
                                                                
          Extra Classe – O senhor tem afirmado que a norma-padrão da língua portuguesa se transforma com freqüência em instrumento de exclusão social. O que é preconceito lingüístico?

          Marcos Bagno – É preciso distinguir a “norma culta”, que é a língua falada e escrita pelos brasileiros com acesso à cultura letrada, da “norma-padrão”, fonte de preconceito social, que não é língua de ninguém, é só um ideal de língua, cada vez mais distante e difícil de ser alcançado – quase um saber esotérico! Não se pode confundir o uso real, autêntico, empiricamente coletável da língua por parte dos falantes privilegiados (a norma culta), do modelo idealizado de língua “boa”, arbitrariamente definido pelos gramáticos normativistas. O preconceito lingüístico existe em todas as sociedades onde se estabeleceu uma tradição escolar, uma cultura literária e instituições reguladoras dos usos da língua como a Academia Brasileira de Letras, por exemplo. Uma vez que toda e qualquer língua é essencialmente heterogênea, o que ocorre é a exclusão da maioria dos falantes do círculo restrito do “falar bem”. No caso do Brasil, nem mesmo as camadas privilegiadas da população acreditam falar bem a língua portuguesa, porque nosso modelo de “língua certa” é extremamente arcaico, inspirado nos usos literários dos escritores de Portugal na primeira metade do século 19.

          EC – Por que Pasquale Cipro Neto, Josué Machado, Eduardo Martins, Arnaldo Niskier, que se autodenominam gramáticos, não aceitam a variação lingüística e desqualificam os lingüistas?

          Bagno – Não classifico nenhum deles como gramático. Esse título cabe a especialistas, a filólogos, a pessoas que dedicam sua vida à pesquisa da tradição gramatical, à revisão das bases teóricas da doutrina como Evanildo Bechara, Celso Cunha, Celso P. Luft, Rocha Lima. As pessoas citadas na pergunta fazem parte daquilo que chamo de “comandos paragramaticais”. Não têm formação científica suficiente, muitas vezes não têm nenhuma, nem são da área das Letras, e se limitam a reproduzir, sem crítica, a doutrina gramatical normativa, como se ela fosse um bloco compacto, como se não houvesse divergências teóricas entre os próprios gramáticos. Essa atitude é muito antiga. Desde que a instituição gramatical surgiu, há 300 anos antes de Cristo, no mundo de cultura grega da Antigüidade, há sempre um grupo de pessoas preocupadas com a “decadência” e a “ruína” do idioma e lutando para preservar a língua.

          EC – O que é mais importante, a língua falada ou a gramática tradicional ensinada na escola?

          Bagno – A língua tem que ser estudada e apreciada sempre em sua totalidade de manifestações: como faculdade cognitiva, como sistema de palavras e regras estruturado para a interação humana, como instituição social, como forma de conhecimento do mundo. E também tem de ser estudada em todas as suas modalidades: falada, escrita, híbrida. A língua falada tem seu lugar no ensino assim como a escrita. Não basta reconhecer que a criança, quando chega na escola, já sabe falar a língua. É preciso mostrar a ela como essa língua falada pode ser usada nas interações sociais, quais são as diferenças entre os gêneros discursivos, entre os eventos de interação, quais são as instâncias públicas e privadas de uso da fala, e quais as normas sociais que presidem esses usos. A gramática tradicional, como patrimônio cultural do Ocidente, merece ser estudada, mas não como uma doutrina cheia de dogmas e verdades eternas, e sim como um conjunto de idéias e conceitos que precisa ser constantemente criticado, revisto, atualizado e até, se for o caso, abandonado no todo ou em parte.

          EC – A proposta é reconhecer que a gramática normativa não é um dogma…

          Bagno – Ao contrário do que apregoam alguns dos “comandos paragramaticais”, nenhum lingüista sério está mandando jogar as gramáticas no lixo, mas querendo que sejam tratadas como aquilo que elas são: obras produzidas por seres humanos – e não frutos de alguma ‘revelação divina’ – e, portanto, sujeitas à crítica e à reformulação. Os lingüistas são os primeiros a reconhecer que os gramáticos da Antigüidade tiveram intuições importantes ao definir sua doutrina, ao especular sobre o funcionamento da língua. Mas eles só se interessavam pela língua grega (e, mais tarde, pela latina), e todo o aparato que criaram (a nomenclatura tradicional) se adequava mais ou menos bem ao grego e ao latim. Para analisar outras línguas é preciso criar outros aparatos descritivos, outra teoria. O problema é que a gramática normativa virou uma instituição sociocultural, que passou a ser reverenciada como se fosse um crime submetê-la a juízo e revisão.

          EC – O que deve vir antes, o estudo científico da língua ou o domínio da escrita e da leitura?

          Bagno – No tocante ao ensino, já está provado e comprovado que o mais importante é promover o letramento dos aprendizes, isto é, a inserção destes cidadãos no mundo da cultura letrada que é o nosso. E isso só se faz por meio da leitura e da escrita, da escrita e da leitura, da reescrita e da releitura. Nada de entupir a cabeça das criancinhas com uma nomenclatura profusa, confusa, muitas vezes incoerente. Vamos deixar isso para mais tarde, lá pelo Ensino Médio, quando a pessoa já souber ler e escrever bem. Se é só no Ensino Médio que as aulas de química, física, biologia aparecem, por que o estudo científico da língua tem de ser feito já nos primeiros anos de escolarização? Vamos pôr essa gente para ler e escrever, pois é disso que o cidadão precisa na sua vida diária. Nenhum profissional bem-sucedido, hoje, em qualquer área de atuação, precisa saber o que é uma “oração subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo”, mas precisa saber ler e escrever muito bem. E a gente só aprende a ler e a escrever… lendo e escrevendo!

          EC – A gramática da língua padrão está focada em uma das variedades lingüísticas, a escrita, que tem como modelo a literatura de Portugal. Sendo assim, esse ideal de língua desconhece a identidade social e cultural dos brasileiros?

          Bagno – Trata-se de assumir que nós falamos uma língua toda nossa, o português brasileiro ou simplesmente brasileiro, com gramática própria, bastante diferente da do português europeu, e mais diferente ainda da norma padrão tradicional (que não é língua de ninguém!). Quando isso for assumido sem medo nem escrúpulos, poderemos produzir gramáticas que descrevam e autorizem o que já é falado e escrito por aqui há mais de cem anos; poderemos parar de ensinar coisas irrelevantes, modos de conjugação verbal que ninguém fala (nem escreve), regras de concordância obsoletas, colocação pronominal e outras coisas que não têm nada a ver com o uso real, contemporâneo do português brasileiro, inclusive da parte dos mais letrados, dos melhores escritores de cem anos para cá.

          EC – Falta correspondência entre pesquisa e políticas públicas no campo da linguagem?

          Bagno – A mudança depende, sobretudo, de uma política lingüística, coisa que não existe no Brasil. É preciso que o Estado legisle, racionalmente, sobre as questões da língua e das línguas (são mais de 200 no território brasileiro!) e sobre o ensino dessa(s) língua(s). E é para isso que esse mesmo Estado mantém, nas universidades públicas, importantes centros de pesquisa em lingüística teórica e lingüística aplicada: para subsidiar as ações públicas no tocante às questões de linguagem. Porém, o Estado brasileiro ainda não acordou para isso. Acima de tudo porque vivemos numa ilusão de monolingüismo: aqui “todo mundo fala português”, “todo mundo se entende”, então não é preciso que o Estado interfira nesse campo. Tremenda ilusão! Os exemplos de países como o Canadá, a Espanha, a Bélgica, a Suécia, a Noruega, a Índia, e até nosso vizinho Paraguai, entre outros – países onde existe uma política lingüística clara, oficial, explícita –, deveriam servir de fonte de inspiração e reflexão para os legisladores brasileiros para que nossa sociedade fosse realmente democrática, inclusive no campo das relações lingüísticas.

          EC – Qual é o papel da escola na constituição dessa educação lingüística digna a que o senhor se refere?

          Bagno – Não se trata, como defendem alguns desavisados, de reconhecer e valorizar as variedades regionais, sociais, etc. e ficar no discurso (reacionário) do “politicamente correto”. O papel fundamental da escola é levar as pessoas a conhecer e aprender coisas que elas não sabem. Assim, na questão da linguagem, a tarefa da escola é levar os aprendizes a dominar plenamente a leitura e a escrita, coisas que só se aprende na escola, e também conhecer e usar outras formas de falar e de escrever, entre elas (mas não só!) as formas tradicionais, eruditas, clássicas ou “cultas”. Trata-se, então, de ampliar o repertório lingüístico dos aprendizes. Mas isso tem que ser feito com uma pedagogia democratizadora das relações sociais, e não por meio da condenação das formas variantes, das formas inovadoras, e pela imposição autoritária das formas consideradas as únicas “certas”.

          EC – Formas lingüísticas já fixadas pelo uso, inclusive na língua escrita, ainda são condenadas pela gramática normativa. Como mudar isso?

          Bagno – De fato, o apego excessivo à norma-padrão tradicional cria esses conflitos. É inaceitável que formas não registradas pela tradição normativa, presentes até mesmo na nossa melhor literatura há mais de cem anos, continuem sendo condenadas pelos puristas. É ridículo dizer que a forma “eu custo a crer” é errada, quando ela já aparece desde José de Alencar (que morreu em 1877). É preciso divulgar amplamente os resultados das importantes pesquisas que têm sido feitas sobre o português brasileiro nos últimos 50 anos, mostrar o que já se fixou e o que já desapareceu da língua, e autorizar esses usos novos. Como já disse antes, é preciso haver uma política lingüística de Estado que reconheça a nossa língua como ela é hoje. Por exemplo, o Ministério da Educação deveria produzir uma gramática de referência do português brasileiro que descrevesse e autorizasse os usos que já estão aí há tanto tempo, mas que continuam sendo perseguidos como “pecados” pelos “comandos paragramaticais”.

          EC – Qual é a relação entre linguagem e poder?

          Bagno – A linguagem é um importantíssimo elemento de dominação sociocultural e política, talvez o mais importante instrumento de dominação e opressão. Quem está no poder quer continuar nele e, para isso, a maneira de falar dos poderosos, dos privilegiados, se transforma numa arma de defesa do poder contra a eventual insurreição dos oprimidos. O lingüista italiano Maurizzio Gnerre, que trabalhou no Brasil, escreveu que a norma-padrão tradicional é uma “cerca de arame farpado”, que separa uma pequena elite de iluminados do resto da população. Não é por acaso que, em todas as sociedades européias, o modelo de língua “certa” tenha sempre se baseado no modo de falar das regiões mais ricas, politicamente importantes, centros do poder. Não é por acaso também que o inglês-padrão é chamado de “inglês da Rainha”. Assim como o rei francês Luís XV dizia que “o Estado sou eu”, os poderosos também podem dizer “língua é a minha” – o resto é “jargão”, “algaravia”, “dialeto”, “caçanje”, ou simplesmente “não é português”.

                                                                          Fonte: Jornal Extra Classe/ Sinpro-RS

Interpretação e Produção de Textos

REPORTAGEM – REVISTA – WOMEN HEALTH
EDIÇÃO 43 – MAIO 2012 

 
GÊNERO DA MÍDIA 
          Trata-se de um artigo de fitness(cuidados com o corpo), falando a respeito de academia e suas vantagens tanto a parte estética quanto à saude. 
                               SUPORTE 
          É uma revista voltada ao público feminino. 
 
ELEMENTOS DE LINGUAGEM 
          Mesclam as linguagens verbal e não verbal, trata-se então de uma multimodalidade.
 
CONTEXTO DE PRODUÇÃO 
          Pode-se falar sobre a questão da procura pelo corpo ideal, que é freqüente nos meios aonde as mulheres procuram se cuidar mais.
          Pode-se abordar esta notícia no meio da saúde e no meio da estética/beleza. 

FATORES DE TEXTUALIDADE

          • COERÊNCIA (a relação lógica entre as idéias apresentadas, a não contradição entre as partes do texto).
          • COESÃO (a ligação harmônica entre os elementos de um texto); 


          Na parte da coesão, encontramos a microestrutura (o co-texto – elementos de coesão textual, sejam eles anafóricos e/ou catafóricos, também chamados de retomada eantecipação). 
           Na parte da coerência, encontramos a macroestrutura (o contexto de forma geral, os fatores de textualidade etc.)

          • INFORMATIVIDADE 
           Há grande informatividade no texto, pois o artigo apresenta novidades quanto a formas de emagrecer. 

          • SITUACIONALIDADE 
          Quanto à situacionalidadeo texto reúne fatores que tornam adequados a uma situação atual ou recuperável.
          • INTENCIONALIDADE
          A intencionalidadedo autor foi clara ao passar para o público que tem como meta perder peso uma nova alternativa.

          • ACEITABILIDADE
          Há aceitabilidade em relação ao texto, de forma geral, principalmente entre o meio feminino, já que as mulheres estão sempre em busca de novas alternativas relacionadas ao assunto. 

           • INTERTEXTUALIDADE
          A intertextualidade aparece muitas vezes explícita, como exemplo são citados os seguintes: Centro Nacional para Estatísticas de Saúde, dos EUA,Ismael Forte Freitas Junior, professor do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual Paulista (UNESP), dentre muitos outros.

Análise da Conversação - Transcrição de Conversa


TRANSCRIÇÃO DE CONVERSA

(Contexto da conversa: E, neta e V, avó conversam sobre a família)



            ...

          E – uma pena né”
V – é (+) é uma pena (+) (incompreensível) (+) quando... É:... que eu tinha mais SAÚDE: né” Num fartava um neto aqui em casa (+) agora que eu sofro com as vistas ruim, não tem neto, não tem bisneto (+) (incompreensível)
E – também né’ vó todo mundo cresceu, cresceu (+)
V - [É:::]
E - (incompreensível) todo mundo foi trabalhar.
V – é (+) todo mundo cresceu, todo mundo foi trabaiá: quando U (+) u Ego (+) era (+) mais piqueno (+) u Ego num deixava eu (+) sozinha
E – ele tá trabalhando”
V – TÁ:: (+) ta’ despois cresceu (+) i pego a idade e foi trabaiá, pronto
E – e o Vini não vem aqui’ não”
V – o Vi vem (+) vem mais é di dia’ mais num É:: (+) cuma u (+) u Ego não.
E – não’ né"
V – não’ U Ego a a mãe dele saia (+) assim (+) era o Ego e o Sila, num deixava eu pá acumpanhá a mãe deles não (+)
E – ((rindo))
V – ficava comigo (+) a mãe pudesse saí (+) o pai (+) e eles num saía (+) eles num:: (+) eles num: deixava eu pá acumpanhá eles não (+) ficava comigo’ o VENICIO não (+) o Venício (=Vinicius) (+) a mãe dele (incompreensível) (+) ONDE:: a mãe dele vai ele vai de lado.
E – ah, ele vai junto né"
V – É (+) mais U:: Sila (+) e U: Ego foram criado comigo desde pequenininha, são apegado comigo (+)
E – e a Raissa’ não vem aqui’ não”
V – a Raissa AGORA (+) vem de dia
E – porque ela está grandinha, ela consegue vir sozinha né"
V – é’ agora ela tá grandinha (+) hm (incompreensível) só quer vir sozinha (+) chega aqui bisa*
E – ((rindo))
V – eu vim tomá conta da sinhora, vissi”*
E – ((rindo)) daquele tamaninho”
V – daquele tamaninho’ bisa, ó (+) mas tenha cuidado:: pra subir aqui na porta* num é” chegue* (+) ai ela pega na minha mão
E – ((rindo))
V - cuidado (+) cuidado pra não caí* (+) eu digo num vô caí não
E – toda meiga né"
V – é:: (+)

/.../

V – CUNVERSA que só um adulto
E – a Raissa né"
V – a:: (+) a Gabi
E – a Gabi de quem”
V – do Pedro
E – ah’ é” conversa assim”
V – CUNVERSA: minha fia. E CUNVERSA (+) (incompreensível) que só um adulto
E – a Gabi tá com quantos aninhos” dois já”
V – TREIS fia
E - três JÁ”
V – treis (+) já
E – Ave Maria, como o tempo passa
V – treis::: (7,0) treis anos e é da-nada
E – eu não vi mais ela’ ela continua a cara da Tia Cí”
V – é: minha fia
E – ela nasceu a cara da Tia Cí né"
V – é (+) o Toinho tava aqui i ela chegou ai o Toinho (+) hm (incompreensível) Você me conhece” * ela (+) ela cunheço (+) cunheço* o que é que eu sou seu”* é meu tio*
E - ((rindo))
V – ((rindo)) é meu tio*

...

OBSERVAÇÕES:
            * As frases em itálico equivalem a quando V. reproduz a fala de outra pessoa.


ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO
  • Recursos utilizados na transcrição da conversa

           No caso de falas simultâneas, utilizam-se colchetes duplos no início do turno simultâneo – [[, o que não foi necessário, pois não ocorreram falas simultâneas nesta conversa.
Quando as vozes se sobrepõem em certo ponto do turno e não no começo, como no caso das falas simultâneas, é utilizado um colchete apenas[, o que não aconteceu.
Para sobreposições localizadas, utilizam-se um colchete abrindo e outro fechando – [ ]. Como por exemplo, no trecho:
E – também né’ vó todo mundo cresceu, cresceu (+)
V - [É::: ]

As pausas ocorreram com freqüência. Em pausas pequenas usamos o sinal + entre parênteses: (+) para cada 0.5 segundo. Exemplo:
V – treis (+)

Para as pausas de mais de 1.5 segundo, cronometradas, indica-se o tempo:
V – treis::: (7,0)

Em caso de dúvidas e suposições marca-se o trecho entre parênteses, indicando a expressão “incompreensível” ou então escrevendo entre os parênteses o que se supõe ter ouvido. Exemplo:
E - (incompreensível) todo mundo foi trabalhar.

Para os truncamentos bruscos pode-se marcar o fato com uma barra - /. Isto pode acontecer quando um falante corta uma unidade ou quando alguém é bruscamente cortado pelo parceiro. Isto não aconteceu na conversa apresentada.
Quando o falante pronuncia uma sílaba ou palavra com ênfase ou quando a palavra recebe acento mais forte que de costume, escreve-se o trecho com maiúsculas. Exemplo:
V – a Raissa AGORA (+) vem de dia

Nos casos de alongamento de vogal, utilizam-se dois pontos - :: no trecho em que isto ocorre:
V – é:: (+)

Quando são expostos os comentários do analista, utilizam-se parênteses duplos no local da ocorrência ou imediatamente antes do segmento a que se refere. Exemplo:
E – ((rindo)) daquele tamaninho”

Em partes onde há silabação, usam-se hífens indicando a ocorrência. Exemplo:
V – treis anos e é da-nada.

Os sinais de entonação aparecem em três formas distintas:
Aspas duplas, para uma subida rápida (como nas interrogações) Exemplo:
E – e o Vini não vem aqui’ não

Aspa simples, para uma subida leve (como uma vírgula ou ponto-e-vírgula). Exemplo:
E – não né"


Aspa simples abaixo da linha, para descida leve ou brusca. Exemplo:
E – ah, ele vai junto né"

Nas partes onde há repetição, reduplica-se a letra ou a sílaba. Exemplo:
V – não’ U Ego a a mãe dele saia (+) assim (+) era o Ego e o Sila, num deixava eu pá acumpanhá a mãe deles não (+)

Para os casos de pausa preenchida, hesitação ou sinais de atenção, utilizam-se as reproduções de sons. Como, por exemplo:
E – ah’ é” conversa assim”

E finalizando a parte de transcrição, para indicação de transcrição parcial, as reticências no início e no final indicam que apenas um trecho está sendo transcrito, como no caso desta conversa. Já as reticências entre duas barras indicam um corte na produção de alguém, como também ocorre nesta conversa.
          A linguagem como capacidade de expressão dos seres humanos é natural e pode ser expressa de diversas formas, sabendo-se que a linguagem tem uma função comunicativa, o presente trabalho tem por objetivo estabelecer uma relação entre a linguagem visual e escrita nas charges que por exigência do gênero, possuem um tom crítico-argumentativo e levam o leitor a refletir sobre o contexto espacial, social e político.


Conceito de Língua- Um conceito voltado à Política.

Variação Linguística- A língua é uma amizade que não é de um conceito popular, Quino utiliza de uma linguagem culta.

Uso da língua- Mafalda e Manolito utilizam de uma linguagem que não é popular, note-se a ausência de gírias e abreviações,mesmo tratando-se de duas crianças

domingo, 13 de maio de 2012

Variações Linguísticas

         As línguas são heranças históricas que passam de geração para geração. No português encontramos um exemplo de variação histórica que seria a forma de tratamento que se usava para Reis no século XV: “Vossa Senhoria”. As variações da língua são relacionadas a diversos fatores como:
  • A faixa etária: palavras que variam ao longo das gerações, cada idade possui uma especificidade em sua fala. Um jovem de 18 anos não usa os mesmos termos que um homem de 40 anos, pois a língua se transforma com o tempo;
  • Gênero: homens e mulheres falam de maneiras distintas, de acordo com os padrões sociais que lhes são culturalmente condicionados;
  • Status socioeconômico: desigualdade na distribuição de bens materiais e culturais, que reflete em diferenças sociolingüísticas. Na maioria das vezes pessoas de status econômico mais baixo possui uma linguagem mais coloquial do que quem status mais alto;
  • Grau de escolaridade: anos de escolarização e qualidade da escola que freqüentou;
  • Mercado de trabalho: cargo ou atividade que um individuo desempenha dentro de seu trabalho;
  • Rede social: pessoas com quem convivemos e interagimos no nosso dia-a-dia.

         A variação lingüística portanto é resultado das interações sociais.
Mas de um modo geral podemos separar a variação em dois parâmetros: A variação geográfica (diatópica) e a variação social (diastrática), sendo que a primeira se relaciona com as diferenças percebidas entre os falantes de espaços geográficos diferentes e a segunda se relaciona com a
identidade dos falantes e também com a organização sociocultural, portanto entram fatores como a classe social, a idade, o sexo, a situação ou contexto social. Destacamos que a diastrática é o objeto de estudo da nossa proposta.

         Observamos que existem várias situações de fala, onde devemos saber diferenciar o tipo de linguagem que se deve utilizar em cada uma delas. Em uma situação como a defesa de uma tese, por exemplo, se deve usar a linguagem formal, já em uma conversa no barzinho com os amigos se usa a informal, que são dois pólos extremos e opostos. Os indivíduos devem saber quando devemos falar de um modo ou de outro, pois dentro da interação social o falante deve seguir as convenções, como saber quando deve falar e quando deve ouvir.

         A variação estilística ou registros são de acordo com camacho; adequação de formas de expressão no ato de enunciar, uma seleção dentro do saber lingüístico individual para definir a forma adequada a se usar, com certo grau de reflexão.

         Assim podemos ver que existem vários estilos em diversas situações e os nomes mais dados a esses estilos não são muito bem definidos, mas podemos utilizar alguns, como: formal, informal, coloquial, familiar, pessoal. Na situação em que esses estilos são utilizados deve-se levar em conta praticamente a cena onde ocorre as interações verbais.

         De acordo com Gnerre: “Uma variedade lingüística ‘vale’ o que ‘valem’ na sociedade por causa de seus falantes, isto é, vale como reflexão do poder e da autoridade que eles têm nas relações econômicas e sociais”. (FIORIN, 2004, p.124).

         A relação entre variedade lingüística e estrutura social coexistem dentro de relações sociais que são estabelecidas na estrutura sociopolítica de cada comunidade. Dentro da vida social encontramos uma certa hierarquia, onde o que define a ordem dos grupos sociais é a variedade lingüística em uso.

         Sendo assim existem certas variedades que são consideradas superiores as outras. A língua culta é chamada de variedade padrão, e é interessante destacar que ela não é simplesmente a língua original, é o resultado de uma atitude social, onde o individuo escolhe um dos modos de falar entre os vários existentes e também por outro lado define um conjunto de normas que definem o modo correto de falar. Quem define o melhor modo e correto são os grupos socialmente dominantes. Historicamente, nossas sociedades são de tradição oriental, onde a linguagem predominante é a variedade padrão falada pelas classes sociais altas, de determinadas regiões geográficas, ou seja, corresponde com a variedade falada pela burguesia, pelos que estão nos centros do poder econômico e cultural. Porém, cada época define o que deve considerar como forma padrão, portanto a definição de “certo” pode mudar para adequado. Normas que não são padrões podem se tornar e vice-versa. Para a lingüística nenhuma língua é inferior ou primitiva, pois toda ela é adequada, é um meio para representar o mundo físico e simbólico em que pessoas vivem. Pode-se também fazer empréstimos lingüísticos no contato cultural com outros povos na formação de novas palavras ou de novos conceitos.

         Lembrando, toda língua é heterogênea e as variedades existentes são frutos históricos e presentes. Podemos dizer que os julgamentos sociais são de natureza política e social e não lingüístico. Para os lingüistas a variedade dos falantes de áreas rurais, por exemplo, não é considerada feia.

         Existe o chamado Preconceito Lingüístico, que possui um efeito negativo. Muitas vezes ocorre certa intolerância diante de uma palavra inadequada, de uma concordância verbal não realizada, entre outros exemplos, e não se pode rejeitar nenhum tipo de variação, pois de acordo com o senso comum existe um código (língua) que é adquirida diferentemente por cada individuo. Portanto existem vários conjuntos de variedades lingüísticas que estão em circulação na sociedade e nenhuma das variedades pode ser taxada de errada, pois não existe língua homogênea. Mas, é certo que algumas vezes os falantes devem adotar a variedade padrão em certas situações, como numa entrevista de emprego, por exemplo. Essa variação é chamada de variação diafásica.

         Entendemos então que devemos respeitar as variedades existentes e
sempre lembrar que a língua está em constante mudança.